Leia, na íntegra, a homilia do papa Francisco durante a vigília pascal, celebrada neste sábado, 19, na Basílica de São Pedro.
HOMILIA DO SANTO PADRE
MISSA da VIGÍLIA PASCAL
MISSA da VIGÍLIA PASCAL
O Evangelho da ressurreição de Jesus Cristo começa referindo o caminho das mulheres para o sepulcro, ao alvorecer do dia depois do sábado. Querem honrar o corpo do Senhor e vão ao túmulo, mas encontram-no aberto e vazio. Um anjo majestoso diz-lhes: «Não tenhais medo!» (Mt 28, 5). E ordena-lhes que levem esta notícia aos discípulos: «Ele ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia» (28, 7). As mulheres fogem de lá imediatamente, mas, ao longo da estrada, sai-lhes ao encontro o próprio Jesus que lhes diz: «Não temais. Ide anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia. Lá me verão» (28, 10).
Depois da morte do Mestre, os discípulos
tinham-se dispersado; a sua fé quebrantara-se, tudo parecia ter
acabado: desabadas as certezas, apagadas as esperanças. Mas agora,
aquele anúncio das mulheres, embora incrível, chegava como um raio de
luz na escuridão. A notícia espalha-se: Jesus ressuscitou, como
predissera... E de igual modo a ordem de partir para a Galileia; duas
vezes a ouviram as mulheres, primeiro do anjo, depois do próprio Jesus:
«Partam para a Galileia. Lá Me verão».
A Galileia é o lugar da primeira
chamada, onde tudo começara! Trata-se de voltar lá, voltar ao lugar da
primeira chamada. Jesus passara pela margem do lago, enquanto os
pescadores estavam a consertar as redes. Chamara-os e eles, deixando
tudo, seguiram-No» (cf. Mt 4, 18-22).
Voltar à Galileia significa reler tudo a
partir da cruz e da vitória. Reler tudo – a pregação, os milagres, a
nova comunidade, os entusiasmos e as deserções, até a traição – reler
tudo a partir do fim, que é um novo início, a partir deste supremo ato
de amor.
Também para cada um de nós há uma
«Galileia», no princípio do caminho com Jesus. «Partir para a Galileia»
significa uma coisa estupenda, significa redescobrirmos o nosso Batismo
como fonte viva, tirarmos energia nova da raiz da nossa fé e da nossa
experiência cristã. Voltar para a Galileia significa antes de tudo
retornar lá, àquele ponto incandescente onde a Graça de Deus me tocou no
início do caminho. É desta fagulha que posso acender o fogo para o dia
de hoje, para cada dia, e levar calor e luz aos meus irmãos e às minhas
irmãs. A partir daquela fagulha, acende-se uma alegria humilde, uma
alegria que não ofende o sofrimento e o desespero, uma alegria mansa e
bondosa.
Na vida do cristão, depois do Batismo,
há também uma «Galileia» mais existencial: a experiência do encontro
pessoal com Jesus Cristo, que me chamou para O seguir e participar na
sua missão. Neste sentido, voltar à Galileia significa guardar no
coração a memória viva desta chamada, quando Jesus passou pela minha
estrada, olhou-me com misericórdia, pediu-me para O seguir; recuperar a
lembrança daquele momento em que os olhos d’Ele se cruzaram com os meus,
quando me fez sentir que me amava.
Hoje, nesta noite, cada um de nós pode
interrogar-se: Qual é a minha Galileia? Onde é a minha Galileia?
Lembro-me dela? Ou esqueci-a? Andei por estradas e sendas que ma fizeram
esquecer. Senhor, ajudai-me! Dizei-me qual é a minha Galileia. Como
sabeis, eu quero voltar lá para Vos encontrar e deixar-me abraçar pela
vossa misericórdia.
O Evangelho de Páscoa é claro: é preciso
voltar lá, para ver Jesus ressuscitado e tornar-se testemunha da sua
ressurreição. Não é voltar atrás, não é nostalgia. É voltar ao primeiro
amor, para receber o fogo que Jesus acendeu no mundo, e levá-lo a todos
até aos confins da terra.
«Galileia dos gentios» (Mt 4, 15; Is 8,
23): horizonte do Ressuscitado, horizonte da Igreja; desejo intenso de
encontro... Ponhamo-nos a caminho!Fonte: Rádio Vaticano
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