25 de mai. de 2012
Nascimento, Família e Infância
Biografia Oficial
Frei Damião nasceu no dia 05 de novembro de 1898 em Bozzano, município de Massarosa, na Província italiana de Lucca. Foi o segundo dos cinco filhos do casal Félix e Maria Giannotti, camponeses italianos de sólida formação cristã e católica. O filho mais velho da família, Guilherme Giannotti tonou-se padre diocesano e depois recebeu o título de Monsenhor, destacando-se como professor e diretor espiritual no Seminário Arquiepiscopal de Lucca-Itália. A irmã mais nova Pia Giannotti, tornou-se freira da Congregação das Irmãs de Santa Zita (Zitinas).
No dia seguinte ao seu nascimento, foi batizado na Igreja dos santos Catarina e Próspero, Matriz de Bozzano, recebendo o nome de Pio Giannotti. Aos dez anos de idade, em 15 de junho de 1908, foi crismado na Catedral de Lucca, pelo Cardeal Lorenzelli. O menino Pio a exemplo dos irmãos também descobriria a vocação religiosa ainda na infância. Aos dez anos de idade, em 15 de junho de 1908, foi crismado na Catedral de Lucca, pelo Cardeal Lorenzelli. Mas, de acordo com relatos da irmã Josefa, o chamado só ocorreria no dia de sua primeira comunhão. Compenetrado e de sensibilidade aguçada, diante da imagem de Jesus Crucificado, ele teria se emocionado. Ainda de acordo com Josefa, após a missa, já de volta à casa, o garoto teria desaparecido. Preocupada a família se divide em sua busca e foi a própria irmã quem o encontrara rezando e chorando a paixão por Nosso Senhor Jesus Cristo, ajoelhado diante de um crucifixo que ele mesmo colocara no sótão onde costumavam guardar mantimentos para o inverno. Singular, a experiência reveste de um sentido especial a ligação de Frei Damião com o crucifixo que viria a tornar-se indissociável de sua própria imagem.
A Vocação para a vida religiosa
A partir do fato com o crucifixo, Pio Giannotti passa a expressar o desejo de consagrar-se inteiramente a Deus. Ainda aos 13 anos, dizendo-se tocado pelo testemunho dos filhos de São Francisco, ingressa no dia 17 de março de 1911 no Seminário Seráfico de Camigliano, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Mesmo optando por um caminho diferente do irmão que era padre diocesano, numa prova inconteste de personalidade própria, o jovem contou com pleno apoio da família.
Com a vida de recolhimento, logo se identificou. Em dois anos, julho de 1915, emitiu os primeiros votos. Aos 17 anos, então, deixa o nome de batismo passando a adotar o de Damião, complementado pelo de sua cidade natal; Bozzano.
Mas o curso dos acontecimentos provocaria uma mudança radical na vida do jovem. Convocado pelo país, Frei Damião vê-se obrigado a trocar o hábito pela farda de soldado. Eis que se desenrolava, a primeira guerra mundial e a Itália, embora apenas um ano depois do início das batalhas, entra para no conflito. Frei Damião foi enviado à localidade de Zara, zona de conflito direto.
Foram três anos de serviço militar. Com o fim da guerra, em 1918 ele volta para o convento onde sela para sempre com o Senhor o compromisso de viver em castidade, em obediência e sem nada de próprio, conforme a Regra de São Francisco de Assis e as Constituições da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.
Formação Religiosa e Intelectual
Em 1920, Frei Damião de Bozzano inicia o estudo da sagrada Teologia. Aluno aplicado, logo em seguida foi enviado à Universidade Gregoriana de Roma, onde conclui, com láurea, os estudos em Direito Canônico e Teologia Dogmática. Em 05 de agosto de 1923 é ordenado sacerdote na Igreja do antigo Colégio São Lourenço de Bríndisi, em Roma.
Serviços prestados
Da teoria à prática, o jovem sacerdote anseia por trabalhar os sólidos conceitos e aprendizados até então assimilados. Dois anos após a sua ordenação, agora soldado do Cristo, recebe a nomeação de vice-mestre de noviços de sua Província religiosa (Lucca-Itália).
Em 1926, foi nomeado diretor e professor dos frades estudantes, cargo que exerceu até 1931, quando recebe a ordem que viria a dar novo curso à sua existência. Aos 33 anos, Frei Damião é enviado para o Brasil. No dia 28 de maio de 1931, partiu da cidade de Gênova, no navio Conte Rosso com destino ao nordeste brasileiro, desembarcando no porto do Recife, em Pernambuco, em 17 de junho de 1931.
Obediente ao mandato de Cristo aos apóstolos: "Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15), Frei Damião veio como missionário, juntamente com os Freis Inácio de Carrara e Bento de Terrinca. Sua primeira residência foi o Convento de Nossa Senhora da Penha no Recife, onde foi eleito Assistente (Conselheiro) da então Custódia Geral dos Capuchinhos de Pernambuco.
As Santas Missões
Fortalecido na fé que sempre professara é que o italiano de compleição franzina, mas de coragem e disposição descomunais, superando todas as dificuldades de adaptação ao clima quente e inóspito, da poeira das estradas, se embrenha nos sertões nordestinos para pregar o evangelho. Um trabalho que ocuparia 66 anos de sua longa vida e que não poderia ter outra alcunha se não: Santas Missões.
A primeira foi no Sítio Riacho do Mel, município de Gravatá-PE, a 35 km da capital. Para melhor difundir sua mensagem, escreveu o livro "Em Defesa da Fé" e assim, como fiel filho de São Francisco, pregava, confessava, celebrava a Eucaristia e convidava o povo sertanejo à conversão e à mudança de vida.
As Santas Missões eram um tempo forte de graça e conversão. Onde quer que chegasse, a cidade parava para ouvir e celebrar a Palavra de Deus proclamada pelo Frei. Era sempre recebido com festa e tratado com muito carinho, fato que ele próprio declarava. Porém, fazia questão de dizer que tudo aquilo não era para ele, mas para Deus de quem o povo o via como mensageiro. Não pregava a si mesmo, mas o Evangelho de Cristo.
Mesmo precedido por outros abnegados Capuchinhos, Frei Damião desenvolveu um estilo próprio de evangelização. A Missão geralmente começava na segunda-feira. Ao cair da tarde, o missionário era recebido à entrada da cidade e conduzido, geralmente em carreatas até a Igreja Matriz, onde dirigia as primeiras palavras à multidão. À noite, rezava o Terço com o povo, fazia o grande sermão, seguido da bênção do Santíssimo Sacramento, e confissão para os homens até meia-noite ou mais. Nas primeiras horas do amanhecer, já por volta das 4 da manhã, com a campainha na mão, acordava os cristãos: "Vinde pais e vinde mães...", chamado com que arrebanhava as pessoas para a caminhada de penitência, seguida do canto do Ofício de Nossa Senhora ou das benditas Almas do Purgatório.
Muitas vezes esquecendo-se das próprias necessidades, até mesmo da saúde, Frei Damião confessava mais de 12 horas por dia e celebrava com o povo o Sacramento do Perdão de Deus. Com carinho paterno, jeito terno e, às vezes severo orientava os corações para Cristo.
Durante a semana da Missão, havia, ainda, encontros específicos com as mulheres, com os homens, com os jovens, catecismo para as crianças, visitas aos doentes e aos encarcerados. O encerramento dava-se no domingo com a procissão dos motoristas e bênção dos automóveis pela manhã e, à noite, o grande sermão com os últimos conselhos do missionário.
O Estilo de Evangelização
Frei Damião tinha uma pregação de conteúdo moral e apologético. Seu objetivo era demonstrar a verdade da doutrina cristã católica, defendendo-a diante de teses contrárias, sistematizando sua origem, credibilidade e autenticidade.
Os sermões estavam sempre embasados no Livro dos Eclesiásticos, nos "Novíssimos": Morte, Juízo, Céu e Inferno, onde consta o conselho fundamental para a salvação: "Em todas as tuas obras, lembra-te dos teus novíssimos, e jamais pecarás" (Ecl. 7, 40).
Assim, seguindo este fundamento, chamando a atenção dos fies para os conceitos de morte, juízo, céu e inferno, incitava-os a não pecarem. Usava os Santos, exemplos maiores de seguimento inconteste dos Novíssimos, como modelo. Dizia sempre que: "se o mundo anda tão mal, é porque pouco se medita ou mesmo não se cogita seriamente sobre os Novíssimos".
Companheiros de Missões
Nas incessantes caminhadas, o Peregrino de Deus contava com companheiros de missões a exemplo dos Freis: Antônio de Terrinca, Cipriano de Ponteccio, Eduardo de Strettoia, Félix de Pomezzana e aquele que por mais de 50 anos esteve ao seu lado; Frei Fernando Rossi que atualmente reside na Vila São Francisco, município de Quebrangulo-AL.
Com a assistência de Frei Fernando, Frei Damião atendeu a inúmeras cidades dos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio grande do Norte (onde fez parte da primeira Fraternidade, ou seja, do primeiro grupo de frades que residiram na capital potiguar), Alagoas (havendo residido em Maceió durante o período da 2ª guerra Mundial), Sergipe, Ceará e Piauí.
Resistência, Doação, Dom da Escuta e Espiritualidade
Frei Damião era de uma resistência fora do comum. Até 1990, pregou missões no mesmo ritmo, de segunda a domingo, de 10 de janeiro a 31 de dezembro, parando apenas quando estava doente e, mesmo no hospital, não deixava de atender ao povo. Arrastava multidões. Todos queriam ouvir sua voz e tocá-lo. Era querido pelo povo como um pai, um padrinho, alguém da família. Não falava simplesmente à multidão, mas ao coração de cada um em particular. Por isso, acolhia a todos sem distinção, do rico ao pobre, do letrado ao analfabeto, era irmão de todos e a todos exortava a viverem na amizade de Deus e a abandonarem o pecado. Ouviu a alma do nosso povo e não somente os pecados, mas as dores e as alegrias. Tornou-se solidário conosco, um de nós, nordestino como nós, para levar todos a Cristo. Jamais se separou do crucifixo, nem do rosário da mãe de Deus. Como autêntico franciscano, alicerçou sua vida missionária sobre os principais pilares da espiritualidade franciscana: a cruz, a eucaristia e Maria.
Doença e Morte
Durante muito tempo, Frei Damião sofreu de erisipela devido à má circulação sanguínea. E no ano de 1990, após ter sofrido uma embolia pulmonar, diminuiu o ritmo das Santas Missões, passando a realizá-las apenas nos finais de semana. Na simplicidade de um quarto, na casa que lhe fora construída como enfermaria, viveu seus últimos dias, cercado pelo carinho do seu povo que, aos milhares, vinha ao seu encontro. Mas, em 1997, sua saúde agravou-se bastante. Foi internado várias vezes no Real Hospital Português do Recife, sob os cuidados do Dr. Blancard Torres.
A última Santa Missão realizou na cidade de Capoeiras-PE, em fevereiro de 1997. Depois, adoeceu novamente tendo que ser levado ao Hospital Sara Kubitschek, em Brasília-DF, para que lhe fosse confeccionada uma cadeira ortopédica que o ajudasse a respirar melhor. Em 12 de maio de 1997 foi novamente internado no Real Hospital Português, na capital pernambucana, mas fato inusitado, ele em dado momento foi encontrado rezando o rosário com o povo numa das salas do hospital. Uma última missão: rezar com o povo o rosário de Nossa Senhora. No dia seguinte, 13 de maio, sofreu um derrame cerebral sendo levado para a UTI. No dia 31, às 19:20h, Frei Damião partiu para a Casa do Pai, aos 98 anos de idade, cercado pela oração de seus confrades, da equipe médica que dele cuidara e sob a melodia de cânticos e hinos.
Luto, Velório e Sepultamento
O corpo de Frei Damião foi embalsamado e velado na Basílica de Nossa Senhora da Penha, no centenário bairro de São José no Recife. Os governos federal e estadual declararam luto oficial. Durante três dias de velório, mais de 300 mil pessoas enfrentaram filas quilométricas, chegando a passar até cinco horas para chegar ao local do velório e assim dar o último adeus ao tão querido Frade Capuchinho. Personagens de renome fizeram-se presente ao velório, desde clérigos, religiosos e religiosas, políticos, artistas a fiéis comuns. A morte do "Missionário do Nordeste" foi anunciada nos principais meios de comunicação do País e do exterior, especialmente na sua terral natal, a Itália, e até mesmo na Rádio Vaticano.
No dia 04 de junho de 1997, o corpo de frei Damião foi levado em carro aberto até o Estádio do Arruda para a missa solene de despedida, presidida pelo arcebispo metropolitano de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, OC., concelebrada por dezenas de bispos e centenas de padres. Do estádio, em helicóptero, foi transportado para o Convento São Félix de Cantalice, no bairro do Pina, em Recife-PE, onde vivera seus últimos anos de vida. O sepultamente foi na capela dedicada à Nossa Senhora das Graças, sob cânticos, aplausos e pétalas de rosas.
As Romarias e a Fama de Santidade
Desde o sepultamento, sempre aos domingos, muitos fiéis, romeiros e romeiras, advindos dos mais diversos recantos do Nordeste e d'outras partes do País, alguns até do estrangeiro, acorrem ao túmulo de Frei Damião. No mesmo clima das Santas Missões, em festa e com muita devoção rezam e fazem súplicas a frei Damião para que interceda no alcance de uma graça.
Dessa forma é que a fama de santidade de Frei Damião se robustece. Para os cristãos, ele é um modelo de seguimento de Jesus Cristo e de concretização do mandato do Senhor; "Sede santos como o vosso Pai do Céu é santo" (Mt 5,48). Aliada à crença popular, a santidade do Frei já era professada ainda na Itália pelos seus confrades contemporâneos, pois que destacava-se como frade piedoso e zeloso sacerdote, entregue à oração, à contemplação, numa profunda identificação com o carisma capuchinho de viver em fraternidade e segundo a forma do Santo Evangelho.
No Brasil, onde toda essa bagagem foi esteio para suas realizações, destacou-se pela resistência que apresentava como confessor, por vezes chegando a ouvir os fies por 12 horas seguidas, pela sabedoria como pregador e convicção das verdades de fé que anunciava. Discurso que personificava através do próprio exemplo de vida, e também por sua identificação franciscana com os pobres e desvalidos do Nordeste, terra sofrida e marcada pelas intempéries do tempo e injustiças sociais. Por isso, como irmão, compadre, pai, valeu-se do dom da escuta, para acolher e ouvir a todos que o procuravam, na partilha sincera de suas vivências e nos sussurros aos pés do ouvido feitos por muitos que não tinham voz nem vez, mas que Frei Damião em prece a todos elevava a Deus.
Por sua vida e obra, no coração dos nordestinos, Frei Damião já tem um altar, pois todos reconhecem a sua santidade, mas isso precisa ser analisado e reconhecido pela Santa Igreja a quem compete pronunciar-se oficialmente sobre a santidade de uma pessoa e apresentá-la como modelo ao mundo, inclusive dando-lhe as honras dos altares. Para isso é que desde 2003 está em trâmite o Processo de Beatificação e Canonização do Frei por todos conclamado como Apóstolo do nordeste.
fonte: www.freidamiao.com.br
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